segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Peripécias do mercado da música


Passando pelo Blog de Pena Schmidt vimos um texto interessante sobre o mercado da música. Pena é da ABMI e produtor de grande experiência. Leia o texto e deixe sua opinião sobre o que ele disse no espaço para comentário logo abaixo do texto. 

Reembaralhando as mesmas cartas

Pena... qual a vantagem hoje de se ter e de se estar numa pequena gravadora (antes chamada de indie)??? (Márcia Tosta Dias)
Pequena ou grande?

As grandes tem lugar para muito poucos, algumas dezenas de artistas no total, portanto nada significativas como escolha ou opção, e no fundo, saíram do ramo, são donas de direitos.

A pequena, que é independente exatamente por não ser do bloco das grandes multinacionais globais é uma Pequena ou Média Empresa, geralmente dirigida pelo dono e alguns sócios, geralmente é um corolário de algum outro negócio – um estúdio de gravação, uma produtora, um agente de artistas, uma casa noturna etc. Como todas as PMEs, não tem capital de giro, conta com recursos geralmente compartilhados entre outras atividades – horas no estúdio, p.ex. – e quando é uma PME da Música, é movida a entusiasmo, paixão e um otimismo de longo prazo, já que dificilmente as contas fecham em cada produto, disco ou projeto. Alguns acertos justificam a perseverança, o investimento é fruto de lucro em outras atividades e o resultado não se pode chamar de “industrial”, com um fluxo irregular e incerto de produtos e receitas.

Ainda assim, do ponto de vista do artista, é melhor estar associado a um parceiro que divida a carga de trabalho, mesmo que não seja 100% dedicado ou tão profissional quanto deveria.

Em 2008, a discussão talvez seja qual o melhor parceiro que um artista precisa: uma gravadora ou um agente.

O mercado periclitante da música gravada aponta para a perda de importância da gravadora. O disco, como obra, preserva seu valor como objeto artístico, é representativo como portfólio do artista, é um bom indexador, ajuda o artista a se inserir na produção musical, no meio artístico. O disco não morre tão cedo. Mas como mercadoria, para os novos, para os iniciantes, é apenas um souvenir para ser vendido no fim do show, deveria até ser grátis, como um anúncio ambulante do espetáculo do artista.

Uma gravadora pequena, mesmo que não seja eficiente como vendedora de discos, pode ser competente como produtora, pode trazer qualidade de gravação, um olhar exterior que ajuda o artista a focar no seu melhor talento, pode acrescentar um rol de colaboradores, os artistas gráficos, os webdesigners, a assessoria de imprensa, advogados e outros que somam esforços e profissionalizam o trabalho do artista músico.

Mesmo que seja apenas esta soma de mais uns bem intencionados sem recursos, mas coordenados sob o CNPJ de uma PME, já é um bom negócio por legalizar o artista, que sem gravadora é apenas um artesão, a não ser que se transforme ele mesmo num dono de negócio. E quem quer ter um negócio destes apenas para mostrar a própria obra? Se for um bom negociante, vai cuidar de ser seu próprio agente, que é melhor negócio.

Pequenas gravadoras conseguem abrigar artistas e gerar produtos artísticos, sim.

Mas dificilmente geram receita para o artista. Vale lembrar que isto é uma regra que vem desde sempre. Gravadoras não dão dinheiro para o artista, nunca deram, quando havia mercado, elas ficavam com a maior parte do dinheiro. O artista, quando vendia bem seus discos, tinha a contrapartida da popularidade, que podia gerar reputação, um valor que é próprio do artista. Tudo isto se reflete num espetáculo mais requisitado e, portanto, mais bem pago, onde, ai sim, o artista ganha seu dinheiro dividindo apenas com seu agente.

Ainda por cima, gravadoras são um assunto que vai se relativizando nesta época de espaços na internet onde o artista publica sua obra gravada em casa, cria seu visual usando ferramentas pessoais, câmeras, celulares, PCs e mais ainda se insere em comunidades, projeta seu perfil, exibe sua atitude perante a vida e a arte, cria um discurso tão complexo e envolvente quanto o que era criado pelos magos pop no apogeu das grandes gravadoras, não mais manifestação dos meios de massa, mas um discurso de pé do ouvido, entregue em casa na solidão. Funciona, é eficaz, carreiras estão sendo solidificadas a partir de coletivos que se aglutinam em torno de opiniões comuns sobre o mesmo artista. As páginas de orkut, os blogs, os twitters, as web rádios que repercutem e geram impulso, até extravasar na vida real, shows lotados de gente desconhecida, sucessos de internet, cada vez mais comuns.

Entra em cena o agente, é inevitável. Porque alguém precisa coordenar a logística, estabelecer preços, cobrar e receber, montar uma agenda, é complicado botar o bloco na rua. Entre uma pequena gravadora e um amigo com jeito para negócios para vender seus shows, o ideal é ter ambos. Porem, com um agente trabalhando, começa mais cedo a procura pelo público, que só existe mesmo na hora de pagar para ver o show, já que a música gravada é grátis e disponível como água, não é?

Não chega a ser um dilema, mas sem música gravada não há espetáculo? Ambos se complementam, a música gravada hoje desemboca na apresentação ao vivo e não mais na venda de cópias, de discos. A música gravada pela gravadora tem mais chances de virar boas bilheterias do que virar vendas. Localizando melhor a conversa, no Brasil não temos nem a chance da venda de música pela internet, este mercado é insignificante. A loja da Apple, iTunes, que domina 80% do mercado americano de venda pela internet, não tem planos para entrar no Brasil e nem se cogita aqui de outras receitas que poderiam ser auferidas pelas gravadoras pelo tráfego de suas músicas pela internet, como cobrar nos provedores de banda e distribuir via ECAD, tema que é assunto de Estado pelo mundo afora. Resultado? O dinheiro esta nos shows. Mais força para o agente, que um dia poderá ir buscar estes direitos e porcentagens das vendas digitais, que acontecem quase sozinhas, sem precisar de administração e logística, como no tempo das gravadoras.

Reembaralhando, ficamos assim. Um agente, que cuida da agenda e dos negócios do artista. Uma gravadora, que cada vez mais se parece com um parceiro na elaboração do produto disco, seu portfólio também para gerar outras receitas. Um artista balançando entre quem trará dindim ou prestigio. A internet como novo campo onde se desenrola o jogo. O dinheiro onde sempre esteve, no bolso do público. Terceiro sinal, começa o espetáculo. 

Pena Schmidt


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