quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Artigo: O “MinC Fiote” entre a crítica produtiva e a sapatada de scarpin

*publicado em 10 de Fevereiro de 2009 por Carlos Henrique Machado Freitas no site Cultura e Mercado

É preciso deixar claro que há neste país uma sociedade pensando seriamente em cultura, debatendo diariamente questões fundamentais dos gargalos que impedem que uma demanda represada do que é regularmente produzido em arte, encontre uma engenharia que contemple a fluidez e a elevação do tom no campo da análise honesta para se produzir, sem ambigüidades, mecanismos que possam promover a economia criativa, distante lógico, do mercantilismo vilipendiador, até porque os amantes de Davos terão que se conformar com, o que para eles, é um insulto, o conteúdo da última carta do fórum dos ricos, melhor, nem tão ricos assim, mas que pôs a bola do capital “bicho solto” universalista no chão e, agora, defendem um controle maior do Estado sobre o financismo que detonou a economia mundial.

É lógico que a temperatura da crítica honesta e transparente ao MinC aumenta diariamente por escolhas de políticas que produzem espumas republicanas e que se excedam numa, antes comemorada visibilidade do MinC, e que agora percebemos que esse processo, inclusive com Gil, quando não foi um simples espetáculo de imagem e som, serviu também agora para Juca Ferreira como amuleto de uma democracia falsificadora. Não exatamente por suas ações que andam muito mais na defensiva das críticas, pelo seu tangenciamento, assim como Gil, das questões que já estavam às suas mesas acumuladas de muitos dos seus antecessores. E, se empoeiradas essas demandas estavam na pilha de reivindicações, empoeiradas ficaram sobre a mesa dos Ministros, mesas que, por sinal, não me lembro de serem alvo de câmeras comemoradas por muitos de nós como tática de dar visibilidade a um ministério com muita luz e pouca ação. Acredito que Gil e Juca utilizaram a tática de adiantar a defesa, no melhor estilo de, “a melhor defesa é o ataque”, arregaçar as mangas do trabalho publicitário, de certa forma, deram uma de Azambuja, e seu eterno pique no lugar diante das câmeras.

Eu, que sou bastante cético aos holofotes nas questões de publicidade antes do acontecido, vi sendo utilizado tanto por Gil quanto por Juca, excessivos canhões de luz para dourar o peru de natal, bêbado e que morre sempre de véspera. Preferiria um Ministério da Cultura mais aos moldes dos monges e na discrição da engenharia silenciosa como a do Ministério do Desenvolvimento Social. Aliás, Patrus Ananias que, nesse tempo todo de sua indiscutível competência à frente de um bem articulado ministério, trabalhou mais debruçado na busca por um sistema que contemplasse êxito em seus propósitos do que bradou, diante das câmeras, o não acontecido, como é o constante erro no MinC, ainda mais hoje, com a derrocada dos jornalões impressos, utilizados para qualquer publicidade paga, perdem campo a cada dia justo para espaços, assim como os blogs que se propõe a um diálogo franco com várias correntes de pensamento na sociedade.

Portanto, na ordem do dia, o MinC deveria adotar a reflexão papal, mergulhar nas realidades contidas no embaraço de uma produção regular de muitos artistas, escritores, produtores que continuam sendo camelôs de seus próprios produtos feitos com a matéria-prima da paixão que, simplesmente, não é detectada pelo radar político do ministério que, por sua vez, não conseguiu estabelecer normas claras do que de fato está calcada a sua política pública de cultura.

As somas de ambigüidades se acumulam num claro bate-cabeças de um ministério que propôs um diálogo dentro da sua unilateralidade, uma reprodução, a princípio de, um quase, Projeto Pixinguinha, onde se juntam no mesmo palco um artista famoso, Gil, e outro desconhecido da Mídia, Juca, a exporem seus ideais que beiram à particularidades diante de uma platéia que pode, no máximo, seguir palmeando a canção e depois, a ovação, com desfecho de arranjo adornado de redondilhas entrincheiradas em clichês da velha revolução sem povo.

É certo que no meio das críticas surjam os oportunistas, aqueles que naturalmente vão ao estádio soltar suas cachorras em cima da mãe do juiz. Mas, como se diz em campinhos de várzea, isso é do jogo. Há também o perigoso Berlusconismo no Brasil à espreita de uma vírgula de crítica para soprarem o diapasão e cantar em coro a música carregada de um repugnante preconceito contra um presidente que saiu das camadas pobres da população brasileira. Então, a Madame Lady do “cansei” frustrado, aproveita a peleja da crítica honesta e atira, como um chacal, o seu scarpan em Lula, carregando a frase do maestro Bornhausen,  “A gente vai se ver livre desta raça por pelo menos 30 anos”, reverberizando uma mídia nitidamente antilulista que anda agora a caçar um mínimo de ar pela asfixia que a velocidade da informação dos blogs lhe impôs, pois a mesma apostou excessivamente na cartilha de Simão Bacamarte, personagem central do Alienista de Machado de Assis. Em conseqüência, essa mídia terá o destino do personagem que quis desqualificar 84% dos brasileiros que aprovam o governo do Presidente Lula.

Há ainda no acompanhamento dessa sonata fúnebre dos insurgentes o motim do canecão, Odoricos de si mesmos, os da “Revolta dos Marechais” do show business estatal que, seguidos pelas câmeras globais, faziam o setembrismo tropical, onde o objetivo era reivindicar aumento para os seus soldos. Eles não estavam ali erguendo espadas em prol da cultura brasileira, e sim, bradando pelo continuísmo de benefícios particulares tão tradicionais em terras de Vera Cruz.

O papado hegemônico da nossa casta esteve a construir nepotismo no corpo da Lei Rouanet, para o bem da família napolitana “Camorra”, um Carbonaro e seu feudo oligárquico metropolitano.

 Aliás, Lei Rouanet precisa sim de uma ampla discussão sobre os seus destinos, pois a mesma é hoje um desses casos clássicos do texto que se choca com o prefácio, um mecanismo que seria a “prima-dona” do reequilíbrio com a sua potente voz em coro com artistas indigentes dos sistemas de mercado ou dos ofícios fardados. Mas a nossa “Maria Callas” desafinou, em pleno maracanã lotado de expectativas que se emudece em tom solene num fracasso de decisão de copa de 50.

O fato é que a vedete do financiamento público de cultura não vive mais a inspirar tórridas paixões em amantes incorrigíveis, mergulhados em suas boêmias utopias, apenas pela exibição do seu minúsculo umbigo que, por sinal, foi interlocutor, em grande parte, dos abusos tragados do cordão umbilical pelas leis do mercado caixeiro viajante.

Ela não pode se desnudar por completo, pois ostenta hoje formas nada republicanas e, vedete que se esconde em camarim escuro, não se cria sequer no seu fã clube.  A vedete, hoje obesa, por acúmulo de gorduras que distorcem o seu objetivo, terá que buscar uma dieta para que não morra de falência múltipla dos órgãos.

Por outro lado, nas ações diretas do MinC, ainda hoje me pergunto, o que seria um pontão de cultura, já que a cidade onde resido, Volta Redonda, Foi uma das primeiras a ser contemplada. E, pelo TOM, até megalomaníaco, imaginávamos ser um estrondo, uma explosão de uma nave-mãe regional pelo discurso proferido por Gil como cidade líder de uma Bacia Cultural. Mas pelo que vejo, sem saber até hoje, o que significa isso, ”Pontão de Cultura”, além de um diploma, deve ser um desses botos criados no açude do MinC que não cansa de fazer água discursiva na escalada de reprodução de piadas, como a que narro a seguir e que é a cara do eterno tom inaugural que MinC se farta para fugir da cobrança de resultados concretos.

 “Um homem, para fugir do flagrante de adultério com a mulher do marido traído que chega de repente, veste-se com uma fantasia de anjo, detalhe, com asa e tudo, sobe ao altar e se mistura entre os santos e, quando descoberto, é pressionado pela carabina do marido traído que lhe pergunta… Você é anjo? E o homem/anjo responde…. Sou sim. Então, o marido com o seu bacamarte já engatilhado e encostado em sua cabeça, ordena,… Então voa anjo!… O homem/anjo responde…. Não posso, sou fiote!”.

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